quarta-feira, 10 de julho de 2013

Como estimular a fala da criança

Quando meu filho vai começar a falar? Qualquer pai e mãe se faz essa pergunta e espera ansiosamente pela primeira palavra do bebê. Em média, as crianças começam a balbuciar com 1 ano. Os primeiros sons estão mais para sílabas do que palavras, como “mã” e “pa”. Mas não importa como aconteça, esse momento trará uma emoção enorme.

Para que a criança continue desenvolvendo suas habilidades com a fala, é preciso estimulá-la. O jeito mais natural de fazer isso é conversar com os bebês. No entanto, uma pesquisa realizada na Universidade de Chicago (EUA) provou que ações não-verbais podem ser tão importantes quanto o bate-papo para melhorar esse aprendizado.Por exemplo, o ato de apontar para um livro enquanto se diz “a mamãe vai pegar um livro” facilita a memorização dessa palavra.

O estudo avaliou 50 bebês entre 14 e 18 meses e gravou vídeos enquanto eles interagiam com os pais. Uma das descobertas foi que o uso da fala associada a um contexto específico (falar “livro” quando se está perto de uma estante) variou muito de um pai para o outro. Os filhos daqueles que falavam mais palavras relacionadas ao contexto ou aos objetos em questão apresentaram um vocabulário mais amplo três anos mais tarde. Segundo os pesquisadores, com pequenos ajustes nas conversas os pais podem dar um estímulo mais eficiente à fala das crianças.

De acordo com a fonoaudióloga Ana Maria Hernandez, coordenadora da equipe de fonoaudiologia do Hospital Santa Catarina (SP), falar dentro de um contexto e fazer gestos (como apontar para o objeto) podem favorecer o aprendizado, pois é uma maneira de o adulto apresentar o mundo para a criança. No entanto, a fala também depende de vários outros fatores para se desenvolver. “Ela é uma expressão da linguagem e, como tal, resulta da integração entre diversos sistemas. A criança precisa estar com o sistema neurológico preservado, a parte motora e psicológica também”. Ou seja, até o carinho que você dá para o seu filho pode fazer diferença no desenvolvimento da fala.

A seguir, listamos algumas dicas que você pode adaptar sem muito trabalho ao seu cotidiano:

Narre o mundo
O conceito pode parecer estranho, mas na prática é muito simples. Converse com o seu bebê sobre aquilo que o rodeia. Na hora de trocar a fralda, por exemplo, vá nomeando suas ações: “vou limpar seu bumbum, vamos colocar uma fralda limpinha, você vai ficar cheiroso”. Durante um passeio no parque, apresente as árvores, a grama, os passarinhos. Apontar, como explicado na pesquisa, também é um ótimo recurso porque dá forma às palavras. A criança associa o som ao objeto e fica muito mais fácil decorar o nome dele.

Atenção ao tom de voz
Quando falamos, colocamos sempre uma entonação em nossa voz, que pode significar dor, alegria, tristeza... Não tenha medo de se expressar na frente do seu filho, porque isso vai o ajudar a decodificar as emoções.

Dê atenção e espaço para o bebê
Passar um tempo se dedicando integralmente à criança é importante para criar um ambiente emocional saudável e também para perceber o que ela tem a dizer, mesmo que não o faça com palavras. Dê espaço para a criança demonstrar seus sentimentos e suas vontades. Ou seja, você não precisa ficar falando sem parar na frente do seu filho achando que assim ele vai começar a falar mais cedo. Dar espaço para o silêncio também é importante – ele também é uma forma de comunicação.

Cante. Sem medo de desafinar
Além de conversar, cantar pra criança é essencial. A sonorização, a rima e o ato de cantar transformam a fala em brincadeira, e isso comprovadamente ajuda o desenvolvimento da linguagem, do vocabulário e facilita o período de alfabetização. Outro ponto forte das músicas são os refrões porque a repetição prende a atenção das crianças. Permita que seu filho conviva com diferentes sons e melodias. “Muita gente entra naquela discussão de direitos humanos, que ‘atirei o pau no gato’ passa uma mensagem de violência, mas nos primeiros anos para a criança o que importa é a sonoridade”, diz a pedagoga Eliana Santos, diretora pedagógica do Colégio Global (SP).

Leia histórias e poesias
As histórias, além do estímulo que representam à imaginação, aumentam o vocabulário e a curiosidade sobre a linguagem. Os poemas, assim como as músicas, têm ritmo e sonoridade bem acentuados. Comece com os textos de rimas diretas e, aos poucos, vá sofisticando. Vale lembrar que a leitura não pode ser mecânica. Coloque emoção e pontue cada frase.

Explore sinônimos
Quando seu filho perguntar “qual é o nome disso?”, não se contente em dar uma só resposta. Claro que nem todos os sinônimos ela vai memorizar imediatamente, mas no dia a dia procure variar o jeito como você define as coisas. Eliana dá um exemplo divertido que usava em sua própria casa: “Eu falava para lavar as nádegas em vez de bumbum. Aos poucos, a criança vai enriquecendo seu vocabulário.”

Permita a convivência
Conviver com outras crianças é importante. “Quando uma criança convive com a outra, ela observa muito e repete. Essa troca enriquece sua experiência”, afirma Eliana.

Criança aprende brincando
É isso mesmo. Nada de transformar o aprendizado da criança em algo mecânico. Se a criança está se divertindo e fazendo determinada atividade com prazer, ela aprende muito mais rápido. A dica aqui é: entre pela porta que ela abre para você. Ou seja, se ela se mostrou interessada por um livro específico, em vez de forçar a leitura de outro, ajude-a a explorá-lo. Se ela está tímida, não a obrigue a ficar no colo de todos os parentes da festa. E nada de desespero: se você prestar um pouquinho de atenção, vai identificar a vontade do seu filho em determinado momento.



Revista Crescer

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Briga de irmãos: quando passa dos limites

Desde que o mundo é mundo os irmãos se desentendem. Competem pela atenção dos pais, pelo brinquedo novo, pelo colo da avó, pela última bolacha do pacote ou pelo jogo de futebol. Por ser um comportamento comum, os pais raramente olham para essas brigas como um problema sério. Porém, uma pesquisa inédita publicada na revista científica Pediatrics mostrou que o bullying entre irmãos pode levar a ansiedade, depressão e raiva naquele mais frágil dessa relação.

O estudo entrevistou 3.599 crianças e adolescentes. No caso daquelas de 0 a 9 anos, as perguntas foram dirigidas aos responsáveis legais. As com 10 anos ou mais responderam sozinhas. Os pesquisadores avaliaram a extensão das brigas a partir de quatro parâmetros principais: se as agressões físicas eram comuns, se havia roubos dos pertences do irmão (à força ou escondido), dano aos pertences do irmão de propósito ou se frases humilhantes ou assustadoras eram ditas com frequência.

Analisando essas respostas paralelamente à saúde emocional das crianças, os pesquisadores verificaram que aqueles que sofreram agressões de maneira constante e repetitiva apresentaram um desequilíbrio evidente. No caso das crianças mais novas, até 9 anos, a agressão física tinha mais impacto emocional do que para os adolescentes, mas os demais parâmetros foram prejudiciais em ambas faixas etárias. Por isso, na conclusão do trabalho os autores afirmam: “Pais, pediatras e o os agentes públicos devem enxergar a agressão entre irmãos como potencialmente prejudicial e não rejeitá-la por ser algo normal ou até benéfico".

Segundo o psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, autor do livro "Manual Antibullying" (Ed. Best Seller), a pesquisa deve servir de alerta para os pais e para quem lida com o assunto. “Quando a gente fala na palavra bullying, logo associa ao ambiente escolar. Quando falamos em irmãos, é quase um consenso de que essa relação conflituosa seja normal. Por mais problemáticas que sejam as brigas, os pais tentam minimizar, acreditando ser natural. Alguns chegam até a dizer que é algo saudável. O estudo ajuda a mostrar que isso, na verdade, pode ser muito danoso para a criança".

Teixeira explica que os pais não precisam radicalizar para o outro extremo, ou seja, achar que qualquer discussão entre seus filhos será um problema. A rivalidade faz parte da convivência entre irmãos - aliás, de qualquer tipo de relação social. Quando eles se desentendem, os pais devem enxergar ali uma oportunidade de ensinar habilidades sociais. Seu papel é mediar o conflito. “No primeiro momento, é preciso mostrar aos filhos que qualquer tipo de agressão [física ou verbal] não será tolerada. Para evitar relações complicadas, é importante manter o diálogo em família, respeitar as diferenças de cada filho e fortalecer os laços. Jantar na mesa sem a TV ligada, fazer uma atividade em família no final de semana, tudo isso ajuda.”

O especialista conta ainda que atende a muitas famílias em seu consultório que, apesar de todos os membros morarem na mesma casa, quase não passam um tempo juntos, mesmo no fim de semana. “O problema começa aí. Criar um rotina legal, olhar nos olhos na hora de conversar, perguntar como foi o dia são pequenas coisas que funcionam e ajudam".

Qual é o limite?

Para observar se os seus filhos estão passando dos limites na hora da discussão, observe se um machuca o outro de propósito (física ou verbalmente), se as agressões são repetitivas e se há uma relação desigual de poder – o irmão mais velho costuma ser mais forte, mas não é regra. “Essa agressão de forma continuada e repetitiva vai destruindo a auto-estima da parte mais fraca desse elo. Se a criança tem um componente biológico para depressão ou ansiedade essa violência, pode ser o gatilho para desencadear o isolamento, depressão, sentimento de culpa, fobia e quadros graves de ansiedade".

É importante também ficar atento ao fato de que os próprios pais podem estar estimulando essa rivalidade. Valorizar mais um filho que o outro ou lidar com os próprios problemas de forma agressiva, sem diálogo, pode contribuir para o mau comportamento dos filhos.

Se você perceber esse problema e não conseguir resolver, pode ser o caso de buscar ajuda de um terapeuta comportamental ou familiar. Também é importante conversar com o pediatra, já que ele é quem acompanha o desenvolvimento da criança.


Fonte: Revista Crescer